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Por que se formam tantas polêmicas, inverdades, controvérsias, mitos; e existem tantos tabus acerca da psicanálise e dos psicanalistas?
Realmente, pelo fato de se tratar de uma ciência que não é matematicamente exata nem objetivamente demonstrável e, pelo contrário, se alicerça em fenômenos mais abstratos do que concretos, mais subjetivos do que objetivos, mais desconhecidos (logo, assustadores) do que conhecidos, mais fora do controle consciente do que de uma segurança que um permanente controle aparentemente possibilita, a psicanálise passou a ser um significativo – alvo para ser atacado, denegrido e, sobre tudo, ficar impregnado de excessivas idealizações ou distorções, falsificações, e pela formação de diversos mitos. Estes últimos são oriundos tanto da intencionalidade de alguns predadores quanto do imaginário popular. São inúmeros os aludidos mitos e alguns dos mais comuns constam nas questões que seguem neste livro. Igualmente, a figura de um psicanalista representa muito fortemente as figuras dos primitivos pais de cada pessoa em separado, de sorte que os terapeutas são revestidos com a mesma idealização, ou denegrindo, ou um excessivo controle, curiosidade, decepções, intrigas, medos, mistérios, etc. que se processavam nas respectivas famílias originais de cada um. Impõe-se fazer a ressalva que nem tudo resulta de distorções fantasiosas; eventualmente o comportamento de algum analista justifica que se façam pesadas críticas.
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Quais são as diferenças entre a psicanálise e as psicoterapias?
Até a pouco tempo, essa crença era bastante divulgada, principalmente por parte dos próprios psicanalistas. Na atualidade, essa afirmativa pode ser considerada como sendo um mito. Pela importância desta questão, se justifica fazer uma distinção entre psicanálise, psicoterapia e terapia analítica. Inicialmente, cabe fazer urna metáfora: assim como existem os extremos da claridade do dia e da escuridão da noite, também existem os estados intermediários como são a aurora e o crepúsculo. De forma análoga, pode-se dizer, esquematicamente, que a psicoterapia tem uma finalidade mais restrita, como resolver crises vitais e acidentais; remover sintomas agudos de quadros de transtornos mentais, como angústia, fobia, paranoia, etc., propiciar melhor adaptação na família, sociedade e trabalho; dar apoio com vistas a um melhor enfrentamento de situações difíceis. Habitualmente, as psicoterapias (tanto individual como grupal) são realizadas em uma média de duas sessões semanais, mas nada impede que possa ser uma sessão semanal, quinzenal ou até mesmo mensal. O tempo de duração de uma psicoterapia pode ser breve (por exemplo, a “focal”, que visa à resolução de um foco especifico de sofrimento) ou longa, que perdura enquanto estiverem, de fato, se processando melhoras na qualidade de vida.
- Já um tratamento psicanalítico visa a um maior aprofundamento, isto é, vai além dos inequívocos benefícios terapêuticos acima mencionados, sendo que o maior objetivo de uma análise é conseguir mudanças da estrutura interior do psiquismo. Objetiva, portanto, realizar verdadeiras e permanentes mudanças caracterológicas, de sorte a melhorar a qualidade de vida para uma pessoa que, por exemplo, seja exageradamente obsessiva, ou histérica, fóbica, depressiva, paranoide, psicossomatizadora, etc. Isso, na hipótese de que essa caracterologia, embora sem sintomas manifestos, de alguma forma possa estar prejudicando a si próprio e/ou aos demais, com sensíveis prejuízos e inibições nas capacidades afetivas, intelectivas, comunicativas, criativas e de lazer. Um tratamento psicanalítico habitualmente é processado com quatro (ou três) sessões semanais, comumente (mas não obrigatoriamente) com o paciente deitado no divã, e tem uma duração de vários anos.
- O termo terapia analítica (ou psicoterapia de orientação psicanalítica) designa aquele tratamento em que há certa superposição de psicoterapia e psicanálise e cujo denominador comum consiste na utilização do ”método analítico” que, fundamentalmente, consiste em um conjunto de conhecimentos teóricos e procedimentos técnicos que possibilitam um acesso ao inconsciente do paciente. Voltando à metáfora do dia e noite, vale repisar que os autores e professores estabeleciam um enorme abismo entre psicoterapia e psicanálise. Na atualidade, entretanto, as zonas de aurora e crepúsculo servem de analogia para o significado de que passou a existir uma redução de diferenças, e uma superposição de semelhanças entre ambas está se expandindo de forma significativa.
